O sucessor de Chávez, que governará até 2019, enfrentará o árduo desafio de reativar uma economia que começa a naufragar e de administrar uma profunda polarização social, depois de tanos anos de poder nas mãos de um líder tão carismático quanto controvertido.
A campanha eleitoral dos dois candidatos foi movida pela emoção, com o presidente interino usando e abusando da aura mística do falecido morto e com o líder opositor declarando-se numa 'cruzada entre o bem e o mal'.
Ainda consternados por sua morte, em 5 de março, os chavistas prometeram cumprir seu desejo: 'Chávez, eu juro, meu voto é no Maduro!', foi o lema mais ouvido nos comícios.
Junto a sua esposa, Cilia Flores, um rosto também conhecido da 'revolução bolivariana', Maduro, de 50 anos, se declara diante dos chavistas como o 'filho' e o 'apóstolo' de seu mentor e assegura que defenderá as conquistas do governo, como a redução da pobreza, além de priorizar outros desafios, como acabar com a insegurança, em um país que registrou 16 mil homicídios em 2012, a maior taxa da América do Sul.
O presidente interino também copia de Chávez sua verborragia desafiadora e implacável para com a oposição, referindo-se a Capriles como 'burguesinho' e 'cabritinho'.
Como prova disso, muitos chavistas, que no domingo votarão no ex-sindicalista, já advertiram que com este voto não pretendem passar um cheque em branco.
'Vou votar em Maduro porque Chávez pediu. É o que a maioria de nós vai fazer. Espero que continue com o legado que nosso comandante nos deixou', declarou Jumal Aponte, uma dona de casa de 34 anos.
Mas à medida que o luto foi diminuindo, a candidatura de Maduro se enfraqueceu, apesar de isto ser insuficiente para reverter a tendência. 'O pico que registrou com o velório de Chávez era irreal', comenta León.
A divulgação de pesquisas de intenção de voto está proibida esta semana na Venezuela, mas as mais recentes apontavam uma vantagem de 10% de Maduro sobre Capriles. O discurso breve, direto e mais agressivo que nunca do candidato opositor tem surtido efeito. Ele conseguiu dar um novo ânimo às pessoas, afirma o analista.
'Se tivessem pergunta há 20 ou 30 dias se isso seria possível, talvez muitos tivessem dito não', afirmou Capriles ante uma multidão que tomou conta da cidade de Barquisimeto, no fechamento da campanha.
Nicolas
Maduro abraça o ex-jogador argentino Diego Maradona, que foi demosntrar
apoio pela campanha chavista, nesta sexta-feira (12), em Caracas (Foto:
Reuters)
Este advogado de 40 anos, governador de Miranda (norte), dedicou todas
suas forças em tentar desconectar a figura do líder falecido de
'Nicolás, o costas-quentes', atacando-o frontalmente, uma estrategia que
evitou durante a campanha de outubro passado contra Chávez, para quem
perdeu com 44% dos votos frente a 55%.'Ele está atacando mais. Está mais seguro e isso nos dá esperança', resumiu María Mendoza, uma administradora de 59 anos presente no comício.
Economia assistencialista
O próximo presidente tomará posse no dia 19 e seu primeiro desafio será enfrentar uma economia à beira do colapso, depois de anos de um 'boom' petroleiro que permitiu a Chávez custear as chamadas 'missões' sociais para as classes populares.
Os analistas enumeram um coquetel explosivo: uma produção decadente, escassez generalizada, inflação de 20% em 2012, seca de divisas, tudo isso combinado com um aparelho público endividado (déficit de 15% do PIB) e um preço do barril de petróleo estancado em US$ 100.
Com seis milhões de beneficiados pelas missões e três milhões de pensionistas - quase 30% da população, Agustín Blanco, historiador e autor do livro 'Fala o comandante', acha uma mudança radical é imperiosa para o país.
'É preciso colocar todos os venezuelanos para produzir, mas os dois candidatos seguem a mesma política assistencialista: eu vou repartir mais do que você', lamenta, temendo 'o maior colapso econômico dos últimos 50 anos'.
Candidato a presidente da Venezuela Henrique Capriles em comício no Estado de Zulia (Foto: Carlos Garcia Rawlins/Reuters)
Tensão eleitoralQuase 19 milhões de venezuelanos estão convocados a votar em meio a um esquema de segurança que envolve 140.000 membros das forças de ordem.
O governo acusou a oposição de tentar desestabilizar o país - inclusive com planos para matar Maduro - e desconhecer os resultados eleitorais, enquanto Capriles se mostra receoso quanto à imparcialidade do órgão eleitoral.
Os resultados fornecidos pelo Conselho Nacional Eleitoral são a 'expressão fidedigna da vontade dos eleitores', defendeu em entrevista à France Presse sua presidente, Tibisay Lucena. 'Este é um povo pacífico, de profunda vocação democrática. Nossas diferenças nós resolvemos através do voto', garantiu.
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