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“Não troco meu “Oxente” pelo “ok” de ninguém” – Ariano Suassuna

segunda-feira, 1 de junho de 2015

Entre a roça e o futebol, treinadora comanda time com a mão pesada; Conheça a história de Donilda - tema de reportagem do Esporte Espetacular sobre o Poeirão

Poeirão Régis Roesing 2 (Foto: Divulgação TV Globo)

Capinar, plantar, usar a enxada, não são palavras que normalmente estão associadas ao futebol, mas para uma mulher do interior da Paraíba, isso é natural. No Poeirão, um dos maiores campeonatos de futebol amador do Brasil, a história de Donilda, uma sertaneja forte de 38 anos, chama a atenção. Ela divide seu tempo entre a roça e o futebol e comanda com mão pesada o Jurema Esporte Clube. 
- Para nós, é o emprego que tem no momento. O trabalho na agricultura, roça. Uma das melhores coisas que eu gosto de fazer é horta. A gente come, vende, sobrevive disso. Não tá conseguindo arroz, feijão, porque não houve inverno. Se tivesse tido inverno, a gente tinha arroz, feijão, milho. Começou uma trovoadazinha, a partir de janeiro parou. Veio chover agora em abril, a gente pensou que ia continuar, e não continuou. Então morreu. Nasceu e morreu. Batalhar uma coisa e não conseguir aquilo se torna difícil. A gente vai tentando até um dia dar certo. Faz um plantio, perde ele todo, fica um pouco triste porque não arrecadou o suficiente – explica Donilda. 
Antes de assumir seu papel como treinadora da equipe, Donilda usa outro uniforme. Para se proteger do sol, o mais forte dos refletores, ela usa botas, calça, camisa, casaco e chapéu. No sertão, é ele quem assume o papel de “craque” em um duelo entre a seca contra o sustento da sertaneja. A chuva, reforço da equipe de Donilda, entrou em campo, mas não jogou o suficiente. Diante das inconstâncias climáticas, ao invés de lágrimas, Donilda foca no trabalho. E quem acha o trabalho de cultivar já é esgotante, é em outro campo que ela encontra mais dificuldades.
- Como eu sou mulher eles não querem me levar a sério. Eu falo para eles que futebol tem que levar a sério. Problemas em casa deixa em casa. O problema ali é a bola. Pegar e ir com garra – afirmou. E a equipe, batizada com nome de uma árvore espinhenta do sertão, já deu frutos. No Poeirão, que acontece há 40 anos, já foram cinco títulos. Um para cada irmão de Donilda que atuam no time: Donildo, eletricista; Dovanir, vaqueiro; Donivaldo, professor; Dogivaldo, agente de sáude e Mariano, agricultor. Os moradores param tudo para verem os 158 times e os mais de três mil jogadores se reunirem no Zezão. 
Na base do mata-mata, cada partida dura 30 minutos e se o tempo normal terminar em empate, a decisão vai para os pênaltis. A vaga na final foi suada e os telhados das casas serviram como arquibancadas improvisadas já que o Zezão estava com a capacidade de 7 mil pessoas esgotada para assistir a decisão entre Jurema e Julhão. Melhor para a torcida de Donilda. Foram sete jogos sem que o professor Donivaldo, que defendeu pênaltis na semifinal, sofresse gols no tempo normal. 
- Quinze dias de angústia, principalmente para mim, porque lutar com 24 jogadores não é fácil. Estou sempre cobrando e as vezes eles não querem me obedecer por eu ser mulher, mas as vezes eles param e dizem: “Ela está certa”. (Esporte Espetacular)

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