Instigante o artigo do professor Jônatas Frazão sobre episódio
ocorrido, recentemente, na Câmara de Campina Grande, quando o comandante
do II BPB, tenente-coronel Souza Neto, externou todas as suas
dificuldades para enfrentar a violência crescente na região.
O “choro” do comandante chamou atenção da opinião pública, ante a
impotência do aparelho de segurança pública para conter os crescentes
índices de violência, que colocaram a Paraíba como o quinto Estado mais
violento do País e ter João Pessoa como uma das dez cidades mais
violentas do mundo.
Diz Jônatas: “Se o comandante da Polícia – homem preparado e ápice da
pirâmide do aparato policial – chora, diante das dificuldades
encontradas, imagine quantas lágrimas rolam no rosto do cidadão comum…”.
Vale a pena conferir seu comentário.
Na íntegra: “Foi com enorme preocupação que li esta semana sobre o
choro do Comandante do II Batalhão de Polícia Militar, tenente-coronel
Souza Neto, durante sessão na Câmara Municipal de Campina Grande, ao
relatar as dificuldades que enfrenta na cidade para executar a sua
tarefa cotidiana de garantir segurança pública ao cidadão, diante das
dificuldades que enfrenta.
Não é fácil garantir ao cidadão a segurança que ele tanto almeja,
quando se tem dificuldades de estrutura, salários defasados e uma tropa
desestimulada em virtude do que encontra no seu dia a dia. Se o
comandante da Polícia – homem preparado e ápice da pirâmide do aparato
policial – chora, diante das dificuldades encontradas, imagine quantas
lágrimas rolam no rosto do cidadão comum…
E quantas lágrimas irão rolar neste mesmo rosto até que tenhamos,
minimamente, pelo menos uma sensação de segurança para sair de casa e ir
à padaria, comprar nosso pão e leite diários? Não só em Campina, mas
aqui em João Pessoa também, onde resido, encontro relatos de colegas da
Universidade sobre preocupações diversas, causadas pela falta de
segurança. Peço desculpas pelo tamanho deste artigo, mas o que vou
relatar agora me preocupa e deveria preocupar as autoridades do nosso
estado também.
Não é fácil morar num estado cujos policiais fazem rodízio de
coletes e de revólveres no trabalho diário, como constatou estudo do
Ministério da Justiça “Perfil de Instituições de Segurança Pública”;
sabendo que os salários dos profissionais da segurança pública figuram
entre os piores do país, pois a remuneração de um delegado chega a ser
74,42% inferior ao salário dos delegados de Sergipe (R$ 23.615,30).
Não é fácil morar nesse estado, sabendo que ele é o 5.º do País e o
4.º do Nordeste com maior crescimento de homicídios por arma de fogo
(avanço de 210,8% em relação a 2002); que registra 32,8 mortes para cada
100 mil habitantes; que nos últimos 2 anos, 3.222 pessoas morreram de
forma violenta na Paraíba.
Não é fácil morar nesse mesmo estado, sabendo que a sua capital
tem a segunda maior taxa de homicídios do País: 71,6 assassinatos para
cada 100 mil (em 2000 esse índice era de 31,6 – mais que dobrou em uma
década); que em João Pessoa mata-se mais com arma de fogo do que em mais
de cem países do mundo, incluindo os mais violentos, como El Salvador
(50,4), Venezuela (43,5) e Guatemala (39,4).
Não é fácil morar nesse mesmo estado, sabendo que ele tem cinco
cidades no ranking das 100 mais violentas do mundo: João Pessoa,
Cabedelo, Caaporã, Patos e Bayeux; e que é o 3.º do País onde mais se
mata mulher; que entre 2010 e 2011 a Paraíba teve um crescimento de 10%
na sua taxa de homicídios (o 5º maior aumento do Brasil); que a Paraíba
tem o 2º maior índice de mortes violentas do Nordeste, entre jovens
(71,5 homicídios a cada 10 mil habitantes) perdendo, apenas, para
Alagoas (79).
Não é fácil morar nesse mesmo estado, sabendo que, de 2001 a 2011,
ele registrou 1.129 mortes a mais que no levantamento anterior –
aumento de 230,4% (no Nordeste foi de 83,7% e no Brasil 8,9%), passando
de 490 mortes em 2001 para 1.619 em 2011 (dados do Sistema de Informação
sobre Moralidade do Ministério da Saúde) e que este é o segundo maior
percentual do País, perdendo apenas para a Bahia (245,2%).
Não é fácil morar nesse mesmo estado, sabendo que, aqui, seis
cidades estão entre as 100 mais violentas do Brasil; que em relação à
taxa de homicídios por 100 mil habitantes a Paraíba saltou de 14,1 em
2001 (21º lugar) para 42,7 em 2011 (4º lugar) – aumento de 202,6% que
colocou a Paraíba como o 3º Estado do País com maior taxa de homicídios,
ficando atrás de Alagoas – 72,2 e Espírito Santo – 47,4.
Não é fácil morar nesse estado, sabendo que ele é o 4º do Nordeste
em crescimento no número de assassinatos de mulheres, com 204,3%; que
em 2011, a taxa de homicídios femininos ficou em 7,3% – 4ª maior do
País, ficando atrás de Espírito Santo (9,2%), Alagoas (8,5%) e Goiás
(8,5%).
Não é fácil morar nesse estado sabendo que, no Brasil, 63,4% dos
jovens morrem de forma violenta; no Nordeste 66,9% e na Paraíba 71,5%;
que no Brasil 39,3% dos jovens morrem vítimas de homicídios; no
Nordeste, 47,3% e na Paraíba, 53,6%; que sua capital é a 4º do País e a
3ª do Nordeste em número de casos de homicídios; que os assassinatos em
João Pessoa cresceram 152,2% de 2001 a 2011 – 3ª maior taxa entre as
capitais do Brasil (perdendo apenas para Natal – 251,3% e Manaus –
181,1%).
Não é fácil morar nesse estado, sabendo que o número de execuções e
jovens na capital mais que dobrou em 10 anos: de 105 casos em 2001 para
289 em 2011 – 3ª colocação no Nordeste; que no universo de 100 mil
habitantes, ela é a 2ª capital do País com maior taxa de homicídios
juvenis em 2011: 215,1 – perdendo apenas para Maceió (288,1).
Não é fácil morar nesse estado, sabendo que sua capital tem a 2ª maior taxa de homicídios do País (2011) – 86,3 assassinatos no universo de 100 mil habitantes, bem acima da taxa do Brasil (36,4); que 6 cidades da Paraíba com mais de 20 mil habitantes estão entre as 100 mais violentas do País (compreendendo o período de 2009 a 2011): Cabedelo, Conde, Santa Rita, Mari, João Pessoa e Patos.
Não é fácil morar nesse estado, sabendo que sua capital tem a 2ª maior taxa de homicídios do País (2011) – 86,3 assassinatos no universo de 100 mil habitantes, bem acima da taxa do Brasil (36,4); que 6 cidades da Paraíba com mais de 20 mil habitantes estão entre as 100 mais violentas do País (compreendendo o período de 2009 a 2011): Cabedelo, Conde, Santa Rita, Mari, João Pessoa e Patos.
Não é fácil morar nesse estado, sabendo que, em relação às
execuções de jovens (de 2009 a 2011), entre as 100 cidades com mais de
10 mil jovens, destacam-se seis paraibanas: Cabedelo, Santa Rita, João
Pessoa, Patos, Bayeux e Campina Grande; que, segundo o IBGE, 575 pessoas
(em média) são roubadas por dia; que em 1 ano, 210 mil pessoas foram
roubadas (6,6% da população paraibana com 10 anos ou mais); que em 1
ano, 122 mil paraibanos foram vítimas de tentativas de roubos e furtos –
queixas formalizadas à polícia (3,8%).
Não é fácil morar nesse mesmo estado, sabendo que ele é o 5º pior
do Brasil na sensação de insegurança nos bairros; que 62,9% dos
paraibanos se declaram inseguros; que 19,8% dos paraibanos se sentem
inseguros dentro de casa; que 37,1% dos paraibanos se sentem inseguros
nas ruas, dentro do bairro onde moram; e que 40,9% dos paraibanos se
sentem inseguros nas cidades onde moram.
Não é fácil morar nesse mesmo estado, sabendo que 10,9% dos
estudantes declararam ter faltado à escola no período de 30 dias que
antecederam a pesquisa, por medo, devido à falta de segurança; que em
2011 e 2012 foram 166 assaltos a agências dos Correios na Paraíba (1
assalto a cada 5 dias).
Não é fácil morar nesse estado, sabendo que em 2011 e 2012
ocorreram 166 assaltos a agências dos Correios (1 assalto a cada 5
dias); que sua capital já chegou a registrar, num período de 5 dias, 25
assaltos a ônibus (entre 03 e 07 de julho de 2013); que houve aumento de
200% no número de ocorrências em agências bancárias (explosões,
assaltos, arrombamentos, tentativas e saidinhas de banco), este ano, em
relação a 2013.
Não é fácil morar nesse mesmo estado, sabendo que em todo o ano de
2012 foram registrados 63 ataques a bancos, número que foi superado, em
2013, em apenas 5 meses, pois no dia 28 de maio foi registrado o 64º
ataque a banco de 2013; e que até este mês de setembro já são mais de
100 ataques.
Não é fácil morar nesse estado, sabendo que, recentemente, o
Jornal O Globo o apontou como um dos mais violentos do Brasil, em
reportagem que apontou as mortes por armas de fogo equivalentes a
regiões do planeta marcadas por conflitos armados; e que, em 2012, cerca
de 3 mil pessoas foram roubadas só na capital (dados oficiais, de
queixas prestadas nas delegacias), o que dá cerca de 250 roubos por mês,
ou mais de 8 por dia.
Sem querer assustar com esses números, mas se algo não for feito
agora, a situação tende a piorar. Que tal começar pelo que prometeu o
governador Ricardo Coutinho na campanha de 2010: ir para as ruas e
comandar pessoalmente uma ação integrada, arrojada e não se esconder por
trás de secretário algum, oferecendo estrutura para a polícia, com
salários dignos e condições para trabalhar? A Paraíba agradeceria.
Caso contrário, o comandante vai continuar chorando. E os bandidos, dando boas gargalhadas.”
Helder Moura
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