Após
uma “pedalada regimental” do presidente da Câmara, Eduardo Cunha
(PMDB-RJ), os deputados aprovaram, no início da madrugada desta
quinta-feira (2) a redução parcial da maioridade penal. A proposta teve
323 votos a favor, 155 contrários e 2 abstenções. A matéria ainda
precisa ser apreciada em segundo turno para depois seguir ao Senado.
Na madrugada de quarta-feira (1º), o plenário da Câmara havia
rejeitado o substitutivo do deputado Laerte Bessa (PR-DF) à proposta de
emenda à Constituição (PEC) 171/93, que previa a responsabilização penal
de jovens de 16 e 17 anos para crimes graves e/ou hediondos. O
substitutivo de Bessa, elaborado em comissão especial, previa que
adolescentes responderiam penalmente como adultos em crimes hediondos
(homicídio qualificado, latrocínio, sequestro, estupro, entre outros),
tráfico de drogas, casos de terrorismo, lesão corporal grave e roubo
qualificado.
No entanto, após a derrota da madrugada, o presidente da Câmara
articulou junto às bancadas da bala, evangélica e ruralista a apreciação
de um novo texto, mas com conteúdo parecido ao que foi rejeitado. De
forma conjunta, as bancadas do PSD, PSDB, PHS e PSC apresentaram, na
tarde de quarta, uma emenda aglutinativa reduzindo a maioridade penal
apenas em casos de crimes hediondos, homicídio doloso (intencional) e
lesão corporal seguida de morte. A proposta também determina que os
jovens de 16 e 17 anos comecem a cumprir as medidas sócio-educativas em
unidade de internação específica e, ao chegar aos 18 anos, eles seriam
transferidos para o sistema prisional comum. A proposta começou a ser
votada na noite de quarta-feira e a sessão da Câmara se prolongou até o
início da madrugada desta quinta (2).
Apesar de bem semelhante à proposta rejeitada pela madrugada, a
matéria apresentada é um pouco mais branda, já que excluiu a
responsabilização penal explícita nos casos de tráfico de drogas e lesão
corporal grave. “Os que votaram contra a redução da maioridade penal
deram uma verdadeira autorização para que esses marginais [jovens de 16 e
17 anos condenados] continuem matando”, afirmou o líder do PSC, André
Moura.
A manobra de se apreciar uma emenda aglutinativa semelhante a um
texto já reprovado em plenário foi classificada por alguns deputados
como “golpe” ou “pedalada regimental”. A líder do PCdoB, Jandira
Feghali (RJ), disse que a “pedalada regimental” pode criar um precedente
perigoso. Ela afirmou que as mudanças regimentais podem gerar
precedentes que hoje servem a um lado, mas, no futuro, poderão ser
utilizado por outros. “Se hoje serve a alguns, amanhã servirá a outros.
Ganhar no tapetão não serve a ninguém”, declarou.
O deputado Paulo Pimenta (PT-RS) foi irônico e disse que “se a Câmara
hoje fosse o Brasileirão, o presidente da Câmara seria o Fluminense”,
em referência às várias viradas de mesa que beneficiaram o time carioca
nos anos de 1990. “Eu considero essa sessão uma farsa. Uma afronta ao
regimento. Hoje nós temos que reduzir as discussões dos critérios
mínimos de democracia. Na calada da noite, arma-se um golpe. O
parlamento vive hoje uma noite tenebrosa”, complementou o líder do Psol,
Chico Alencar (RJ).
Até o ex-presidente do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa,
criticou a manobra de Cunha. “Matéria constante de proposta de emenda
rejeitada ou havida por prejudicada não pode ser objeto de nova proposta
na mesma sessão legislativa”, afirmou.
Os defensores da redução da maioridade penal, no entanto,
classificaram como “normal” a manobra do presidente da Câmara. Eles
alegaram que, como a PEC 171/93 não foi rejeitada, ainda havia a
possibilidade de se apresentar emendas que poderiam ser incorporadas ao
texto original. Cunha declarou que a emenda é legal e tinha respaldo no
regimento.
“A população não se sentiu representada pelo resultado da votação. O
que mais recebi foram mensagens de pessoas dizendo que deputado anda com
segurança, não é assaltado e, por isso, não se preocupa com a
violência”, disse o deputado Efraim Filho (DEM-PB).
Congresso em Foco
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