No sertão um padre clama por justiça, sofre com os desvalidos, morre com os bichos mortos. Os ouvidos moucos das chamadas autoridades, porém, preferem ouvir as preces do pastor bem vestido e perfumado, abençoando o banquete de suculento cardápio, oferecido a presidente de requintado gosto. Pra que ouvir a prece do padre molabento, se a oração do pastor granfino também promete o céu como prêmio?
Padre Djaci Brasileiro gasta a sola da alpercata na poeira seca da estrada, solidário com a carniça e com o fedor que dela exala. O pastor, de gola alta, levanta seu braço, estende a santa mão sobre a mesa bem sortida e espalha o perfume da boa gula pelo ambiente, deixando os comensais em extase.
De um lado o padre sujo, com roupas de João Batista, com manto de Jesus Cristo, manto roto, rasgado, de pano ruim, acredita naquela verdade bíblica que promete ao pobre o reino dos céus; do outro o pastor limpo, cheiroso, de terno bem talhado, cabeleira ondulada, unhas perfeitas, sapato de couro bom, defendendo a tese da salvação dos ricos. A qual dos dois seguir?
Bem, a presidente e os do banquete não têm dúvidas, preferem o caminho largo da fartura. Os desvalidos, talvez até por lhe faltarem opções, caminham com a amargura dos famintos, espiando a festa dos abastados com o olhar pidão de quem se contenta com o sobejo caído na sarjeta.
Deus, ó Deus, onde estás que não respondes, em que mundo, em que planeta tu te escondes, que não escuta os lamentos daqueles que são teus?
Tião Lucena
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