O padre Djacy
Brasileiro, da cidade paraibana de Pedra Branca, no sertão, está de
volta a Brasília para pedir a transposição do rio São Francisco.
Conhecido por ter protestado em frente ao Palácio do Planalto em 2007,
portando uma cruz feita com latas de tinta, usadas pelos sertanejos para
carregar água, desta vez o padre foi recebido pelo secretário Nacional
de Irrigação, Guilherme Orair, para “dar seu grito profético” pedindo
socorro aos sertanejos e cobrando andamento das obras. No discurso do
padre, sobram críticas para a presidente Dilma Rousseff e principalmente
para a falta de prioridade consignada ao projeto.
- Lula deu início à
execução desse projeto. A Dilma tem de ser mais ágil. O governo tem de
esquecer essa Copa. São muitas vidas sendo ceifadas - disse o padre, que
ficou impressionado ao ver as obras do Estádio Nacional Mané Garrincha,
em Brasília, uma das sedes da Copa do Mundo de 2014.
- Enquanto isso, o povo no sertão passando sede, morrendo aos poucos. O
que é prioridade não está sendo levado em conta. Para nós do sertão não
nos interessa Copa. Interessa é água. Enquanto isso, o governo investe
bilhões e bilhões na Copa. Não sou contra sediarmos a Copa, mas isso não
é prioridade – disse.
O sertão está esquecido,
na avaliação do padre, que sonhava em ser atendido pelo ministro da
Integração Nacional, Fernando Bezerra, mas não conseguiu audiência.
Muito menos com Dilma, por quem ele queria ser recebido. Na reunião com o
secretário de Irrigação, o padre disse que “desabafou” sobre a situação
da seca e questionou o porquê da inércia do governo para o socorro às
vitimas da seca. Antes do encontro, que durou duas horas, ele afirmava
que esperava sair da reunião com esperança para levar à sua paróquia, de
4 mil pessoas, no Vale do Piancó. Mas saiu da reunião dizendo estar
“cético” sobre o andamento das obras.
- Na teoria está tudo
bonito. Ele (o secretário) disse que como era prioridade para Lula, é
para Dilma. Mas eu estou cético, só acredito quando vir as águas
entrando na Paraíba – afirmou.
O secretário reforçou ao
padre que o governo quer sim concluir as obras de transposição do Velho
Chico, mas que os problemas seriam “entraves burocráticos”, como
relatou Djacy.
- Ele disse que o
governo tem o maior interesse em fazer com que o projeto seja executado,
e que dinheiro tem. Mas há entraves. Por exemplo, questão de licitação.
Também problemas de ordem jurídica – disse Padre Djacy, sem detalhar
como os entraves podem ser resolvidos e quais são as promessas para
destravar as obras.
Sobre quem é contra a transposição, Padre Djacy esbraveja:
- Isso é desumanidade,
não querer levar água para os quatro estados, é insensibilidade. Quem
luta contra não conhece nossa realidade – disse o padre, ao ser
questionado sobre a ação de outro padre, Luís Flávio Cappio, que em 2005
e 2007 fez greve de fome contra as obras de transposição do rio. - Ele
teria de ir lá para ver o que eu vejo.
Nesta viagem a Brasília,
Djacy Brasileiro não fez protesto com a cruz de lata. Sem essa
estratégia para elevar seu grito pela transposição, ele contou com a
ajuda do ator Zé de Abreu, o Nilo de “Avenida Brasil”, que ajudou a
divulgar sua reunião com as autoridades na capital. Mas ele ainda queria
falar mais alto pedindo a transposição:
- Se eu pudesse pegar a
tribuna da Câmara ou do Senado... Houve um esquecimento total da
questão. Parece que a transposição não é mais prioridade, parece que a
Copa é prioridade, é isso que o povo do sertão vê - disse.
O Globo
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