Não
é só a falta de água para agricultura e pecuária que aflige os
sertanejos da Paraíba que enfrentam a pior seca dos últimos 50 anos.
Sede e fome começam a ameaçar a sobrevivência dos moradores de
comunidades rurais nos municípios do Vale do Piancó, no Sertão, segundo o
padre Djacy, conhecido ativista que denuncia nas redes sociais as
consequências da prolongada estiagem no estado. Os
programas sociais do Governo Federal, como o Bolsa Família, têm sido as
únicas fontes de recursos para muitos desses sertanejos, que viviam da
agricultura de subsistência. Água para beber, apenas dos carros-pipas,
que abastecem as localidades onde há mais de um ano não chega água nas
torneiras ou o fornecimento através de açudes são insuficientes.
Em
quatro meses padre Djacy já percorreu mais de dez cidades do Vale do
Piancó e atesta: “O que eu tenho visto é muita miséria. Tive em várias
comunidades rurais, como Diamante, Curral Velho, Aguiar, Pedra Branca,
Itaporanga e vi pessoas passando sede e fome. Se não fossem os programas
sociais muita gente já teria morrido.”, contou o padre Djacy,
emocionado. Ele
diz que moradias precárias e principalmente a falta de comida têm se
tornado comum em comunidades rurais como essa. Nas visitas, além escutar
os apelos dos sertanejos, o ativista leva doações que recebe na igreja e
até de pessoas de outros estados que contribuem com a campanha.
“Crianças
correm ao me ver chegar com comida. As pessoas vêm ao meu encontro. Os
adultos ficam esperando porque sabem que posso trazer um pouco de
alimento. Isso é o que me assusta”, destacou. A
última cidade visitada pelo religioso foi Itaporanga, a 420 quilômetros
da capital paraibana. Na comunidade rural Bela Vista, a situação de uma
família chocou o padre, que já está acostumado a ver a carência das
pessoas que sofrem com os efeitos da seca. “Eles vivem em uma situação
precária. Moram em uma casa de taipa, em condição subumana”.
A
família possuía um poço artesiano de onde tirava água, mas o local
agora está aterrado. Padre Djacy relatou a emoção do chefe da família,
Francisco Araújo, de 57 anos ao mostrar o poço seco. “O senhor me
mostrou o poço que está aterrado. Com o tempo, ele foi se deteriorando e
a família não teve dinheiro para ajeitá-lo. O homem chegou a chorar.
Era desse poço que ele tirava água para a casa dele”. Ele
ressaltou que a água própria para beber que a família tem acesso é dos
carros-pipas, mas muitas vezes, o chefe da família busca o líquido
escasso em um “açude de capacidade média”. “Essa água é insalubre,
imprópria para beber, porém, às vezes, além de usá-la para lavar louça e
roupa, ela é consumida por eles”.
Outra
situação que chamou a atenção do padre é que muitas crianças ajudam
seus pais a irem buscar água no açude. “Isso é muito comum. Na maioria
das vezes os açudes são distantes, mas as crianças acompanham seus
pais”. Segundo
padre Djacy, a família relatou que o dinheiro que consegue para comprar
comida é do Bolsa Família, mas para ele, o auxílio do programa federal
não é suficiente para resolver os problemas das famílias que estão
sofrendo. Em Itaporanga, 3.079 recebem o benefício, com média de R$ 139
por mês, segundo dados do levantamento informado pelo Ministério de
Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS).
Padre
Djacy apela para que o Governo do Estado adote medidas mais efetivas
para diminuir os efeitos da seca e pede que cestas básicas sejam
enviadas com urgências para as famílias que estão passando fome. “A
cada dia que passa, percebo, graças as minhas visitas às comunidades
rurais, que a situação de milhares de sertanejos vai ficando dramática.
Mais um ano se passa, e os agricultores nada colheram para a
subsistência. Peço ao governo do Estado, que por questão humanitária,
envie, o quanto antes, cestas básicas para as famílias que clamam por pão”, clamou. (com Correio / fotos Pe. Djacy)
Nenhum comentário:
Postar um comentário