Em tempos de manifestações nas ruas por mudanças na sociedade brasileira e crise da representatividade
dos partidos políticos, uma rede formada por 70 instituições inicia, a
partir desta segunda-feira, 24, a campanha Reforma Política Já. Os
mesmos autores que propuseram a Lei da Ficha Limpa querem promover um
chamamento público nacional para colher assinaturas suficientes para a
aprovação de um projeto de lei de iniciativa popular que sugere
alterações no sistema eleitoral que possam valer já nas eleições do ano
que vem.
A duas principais alterações propostas são a extinção das doações de
pessoas jurídicas, e restrições às feitas por pessoas físicas para
campanhas; e a realização de eleições proporcionais (para vereadores e
deputados) em dois turnos, onde no primeiro os eleitores votariam nos
partidos e, no segundo, nos candidatos. Isso, segundo os autores,
representaria redução dos custos e maior transparência no processo
eleitoral, fortalecimento dos partidos e suas ideias programáticas, e a
eliminação do clientelismo e "da nefasta influência do poder econômico
nas eleições".
A ideia é não só para transformar a proposta em projeto de lei, como
aconteceu com a Lei Complementar 135/2010 (Ficha Limpa), mas sancioná-lo
a tempo para que as novas regras incidam sobre a eleição de 2014. "O
sistema político brasileiro está tão defasado que não é justo para o
Brasil passar por outra eleição com estes moldes", disse o juiz Márlon
Reis, cofundador do Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral (MCCE).
A campanha pode ganhar força num momento de grande pressão popular. No
pronunciamento que fez em cadeia de rádio e TV na sexta-feira, 21, Dilma
disse que quer contribuir para a construção de uma "ampla e profunda"
reforma política.
A meta da campanha é recolher 1,5 milhão de assinaturas num prazo de 30
dias. O número equivale a 1% do eleitorado brasileiro, mínimo necessário
para dar início à tramitação do projeto, que deve estar aprovado,
sancionado e publicado no Diário Oficial até a data limite de 5 de
outubro, exatamente um ano antes das eleições.
Márlon Reis considera o prazo possível. "Na lei contra a compra de
votos, todo o processo, desde o início da coleta de assinaturas até a
publicação no Diário Oficial, durou 32 dias", disse.
Baratear. Além da extinção do financiamento de campanhas por empresas, o
projeto prevê um teto máximo para doações feitas por pessoas físicas de
um salário mínimo por doador. "A ideia baratear as campanhas,
pulverizar as doações e impedir que um grande financiador seja o dono do
mandato", disse Reis. Ele ressalta que as doações seriam feitas ao
partido e não mais ao candidato, como é possível atualmente.
A adoção do que os autores chamam de "voto transparente" também
representaria o barateamento do sistema eleitoral, segundo o promotor de
Justiça Edson de Resende Castro, membro do MCCE e coautor da minuta do
projeto.
Na eleição em dois turnos, o primeiro serviria para a definição da
quantidade de cadeiras que ocupará cada partido na legislatura seguinte.
Os eleitores votariam nos partidos e não em candidatos, que não poderão
participar da campanha nesta fase. Quanto mais votos receber uma
legenda, mais cadeiras ocupará no Legislativo.
"Com três meses de campanha no horário gratuito de rádio e TV, as
campanhas seriam mais programáticas porque os partidos não teriam outra
alternativa senão apresentar e discutir propostas", disse. "O sistema
atual não valoriza os partidos." Definida a quantidade de vagas a serem
ocupadas por cada legenda, os partidos apresentariam a lista de seus
candidatos.
Assim, segundo Castro, seria reduzida em cerca de 70% a quantidade de
candidatos ao Legislativo, o que daria maior representatividade aos
eleitos.
Fonte: Estadão
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