O drama da seca continua penalizando a Zona Rural de praticamente todas as regiões da Paraíba. No Sertão, famílias inteiras vivem uma situação angustiante, que parece não ter fim.
Diariamente, é comum encontrar nas estradas, entre as comunidades
rurais, pessoas com baldes, latas e tambores à procura de água para
beber, cozinhar e lavar roupa.
A falta de água e alimento se junta à carência de atenção dos
governantes, levando moradores das áreas mais castigadas ao desabafo e a
desesperança.
"Só queria que Deus olhasse pra nós. Ninguém olha pra nós. Ninguém se
lembra da gente. A gente vive abandonado, a gente vive esquecido
demais", Maria Aparecida Pedro da Silva. Ela tem oito filhos e tem que
caminhar cerca de 2 quilômetros para encontrar água.
Para tomar banho e lavar roupas algumas famílias apelam para a ajuda de
parentes e amigos que moram na cidade. A água para beber, eles precisam
andar no asfalto por quilômetros em busca de um cacimbão.
"Seu moço, anote aí no seu caderno o seguinte: aqui a gente é esquecido,
excluído. Ninguém tem dó da gente. A gente é pobre, mas é gente, tem o
mesmo direito que os outros", pediu dona Maria Costa, agricultora que
faz o mesmo percurso em busca de água.
Os desabafos foram feitos ao padre Djacy Brasileiro por sitiantes da
comunidade Lagoinha, localizado no município de São José de Piranhas
(localizada no Sertão da Paraíba, a 503 quilômetros de João Pessoa).
O padre, ao encontrar os moradores percorrendo longas estradas, às vezes
sem saber onde encontrar, ouve os desabafos e, sem ter como prestar
ajuda, sofre junto com as vítimas da seca.
São depoimentos que o padre Djacy, pároco do município de Santa Cruz,
também no Sertão a 445 quilômetros da Capital paraibana, ouve
diariamente nas peregrinações que faz com intuito de divulgar a situação
das famílias sertanejas que sofrem com o problema cíclico da falta
d'água provocada pela escassez das chuvas e de ações políticas contínuas
que abasteçam os municípios nos períodos críticos.
Outros depoimentos feitos por moradores da comunidade Lagoinha
divulgados essa semana por padre Djacy na página dele do Facebook
mostram o drama em busca de água.
"Padre, a gente passa o dia carregando água. A nossa situação é triste,
muito triste. Nossa vida é carregar água", disse seu Antônio Gomes.
"A gente sai pela cidade de São José de Piranhas pedindo água para lavar
roupas e tomar banho. Assim é nossa vida sofrida. É muito sofrimento.
Só Deus olha pra nós e ninguém mais".
Depoimentos que emocionam o padre que continua clamando por atenção e
por decisões políticas capazes de acabar ou pelo menos minimizar todo
esse sofrimento.
No município de São José de Piranhas, o açude que abastece a cidade tem
capacidade para mais de 3 milhões de metros cúbicos de água e está com
apenas 16% de sua capacidade, conforme dados divulgado pela página na
web da Agência Executiva de Gestão das Águas.
No posto da Companhia Estadual de Gestão das Águas de São José de
Piranhas, a informação prestada foi de que a zona urbana ainda está
sendo abastecida, mas a situação é preocupante na Zona Rural, em que
somente cinco carros pipas estão abastecendo as comunidades.
A cidade de São José de Piranhas tem aproximadamente 21 milhões de
habitantes e as chuvas que caíram no ano passado não foram insuficientes
para encher o açude São José e os pequenos mananciais das áreas rurais.
Nessas áreas, a população continua com as longas caminhadas em busca de
água, utilizando latas e carroças em busca da cidade, local que ainda
dispõe do produto, mas que tem prazo para acabar se não chover nos
próximos meses.
Além da falta d'água, a seca também traz com ela a fome. Sem chuvas, não
há colheitas nos pequenos roçados e a população mais carente fica sem
recursos para comprar os alimentos da cesta básica.
A carência é tanta que sitiantes declaram como único recurso para
sobreviver o dinheiro do programa bolsa família do governo federal."Seu
Padre, a verdade a gente tem que falar. Vou falar uma coisa, lá em casa,
a nossa sorte é o bolsa família. Se não fosse o bolsa família, a gente
já tava era morto. E ainda tem gente 'granfina' que é contra o bolsa
família", disse dona Maria Aparecida.
E falam com consciência dos governantes."Padre, tá pensando que
prefeito, vereador, governador, deputado, seja quem for, anda nas nossas
casas pra saber da nossa situação? Anda breu. Esse povo só aparece nas
eleições. A gente não tem valor de nada pra esse povo", desabafa a
mulher.
Padre Djacy divulga a situação dos sertanejos em seu perfis nas redes
sociais, numa série de registros que denominou 'Caminhos da Sede'. O
Portal Correio acompanha, com exclusividade, o roteiro feito pelo
religioso.
O pároco de Santa Cruz e sua luta ficaram conhecidos nacionalmente em
2011, quando ele foi à Brasília com uma cruz de lata e permaneceu de
plantão em frente ao Congresso Nacional para chamar a atenção dos
políticos e do povo brasileiro.
Fonte: Luciana Rodrigues
Nenhum comentário:
Postar um comentário