Paraíba é destaque nacional em em sobrevivência de pequenas empresas
Em contraste com o Nordeste, 80,5% dos negócios no Estado ultrapassam dois anos de vida; Minas Gerais é a 1ª no ranking do Sebrae
O paraibano José Miguel da Silva Sobrinho, de
39 anos, deixou sua terra natal aos 16 para trabalhar na cozinha de
renomados restaurantes do Rio de Janeiro e de Brasília. De origem
humilde, Silva Sobrinho trocou de Estado para melhorar de vida e reforçar as economias. Na época, conta, o Nordeste estava carente de oportunidades.
Há cinco anos, contudo, ele viu em João Pessoa (PB) uma cidade
em ascensão para investir o dinheiro economizado e a experiência
adquirida durante o período em que trabalhou fora do Estado. Decidiu
abrir a pizzaria Arte da Pizza. “Quis levar meu conhecimento para minha
terra natal. A raiz fez todo diferencial para o negócio”, considera ele.
O início não foi fácil. O projeto
era de uma pizzaria a la carte, como os restaurantes tradicionais de
São Paulo. Os paraibanos, no entanto, estavam acostumados a comer em
rodízios. “Os primeiros seis meses foram muito difíceis. Fizemos muito
marketing na rua com degustação para atrairmos e fidelizarmos nossos
clientes”, recorda o empreendedor.
A pizzaria — que inicialmente comportava 60 lugares — hoje
tem espaço para 134 pessoas e, a partir do ano que vem, vai atender
cerca de 180 clientes. A expansão, segundo o empresário, se deve, em
grande parte, ao potencial empreendedor da Paraíba, especialmente da
zona sul de João Pessoa.
“Os restaurantes estão muito concentrados ao redor da praia. Quis
explorar outros locais para atender uma demanda carente de gastronomia”,
afirma Silva, que prevê expansão do negócio com a Copa do Mundo de
2014. Segundo o Ministério do Turismo, a Paraíba é o 14º destino mais
procurado em viagens domésticas.
O caso de sucesso da Arte da Pizza não é isolado. Segundo censo
realizado pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas
(Sebrae), a Paraíba é o segundo Estado com maior índice de sobrevivência
do País, com 80,5% das micro e pequenas empresas ultrapassando os dois
primeiros anos de vida, atrás de Minas Gerias, com 81,5%.
A diferença é que, enquanto o Sudeste tem média de sobrevivência de
78,1% — acima da média nacional de 75,2% —, a Nordeste tem média de
71,5%. Ou seja, a Paraíba é a segunda melhor colocada no ranking, dentro
da segunda pior região do levantamento (atrás do Norte, com 68,9%).
“Sempre que falamos sobre a taxa de sobrevivência das empresas, verificamos que a atitude do empreendedor é o grande diferencial
Essa contradição tem explicação, segundo Luiz Barretto, presidente do
Sebrae Nacional: "A Paraíba se destaca no conjunto da região, em parte,
porque nos últimos anos o setor da construção civil apresentou uma
evolução relativa mais positiva. As empresas paraibanas da construção
têm uma taxa de sobrevivência de 77%, o que foi determinante para a
melhora da taxa de sobrevivência média das empresas daquele Estado."
Além disso, explica Barretto, o Nordeste foi caracterizado durante
muito tempo pelo empreendedorismo por necessidade. E com a melhora da
economia, esses empreendedores fecharam suas empresas e decidiram
trabalhar como profissionais assalariados, contribuindo para o índice de
mortalidade da região.
Para Geraldo Lopes, economista do Instituto de Desenvolvimento
Municipal e Estadual da Paraíba (Ideme), também contribui para o
resultado a descentralização econômica. "Muitas indústrias estão abrindo
unidades fabris na região e adicionando valor ao Estado. Há desde
fábricas de cimento, até de eletrodomésticos", afirma, sem citar nomes.
PIB da Paraíba
Não obstante, o Produto Interno Bruto (PIB) da Paraíba vem crescendo
acima da média nacional. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE), em 2011 o Estado cresceu 5,6% em relação ao ano
anterior. Já o Brasil, teve expansão de 2,7% no mesmo período.
Luiz Barretto, presidente do Sebrae Nacional: expansão da construção
civil fomentou empreendedorismo na Paraíba. Foto: Sebastião
Pedra/Sebrae1/3
"Há uma tendência nacional de desconcentração econômica. O Sudeste já cresceu muito e tende a se estabilizar. Já a Nordeste tem uma base pequena e muito potencial para expandir e gerar negócios", compara o economista.
"Há uma tendência nacional de desconcentração econômica. O Sudeste já cresceu muito e tende a se estabilizar. Já a Nordeste tem uma base pequena e muito potencial para expandir e gerar negócios", compara o economista.
Juliana Queiroga, coordenadora da Endeavor Nordeste, Organização Não
Governamental (ONG) que fomenta o empreendedorismo, acrescenta que o
próprio paraibano é responsável pelos dados otimistas.
"Sempre que falamos sobre a taxa de sobrevivência das empresas,
verificamos que a atitude do empreendedor é o grande diferencial. É
necessário planejamento para abrir um negócio de sucesso, além de se
capacitar para gerir este negócio e estudar o mercado onde irá atuar. O
grande destaque da Paraíba são, certamente, os paraibanos", defende ela.
"O problema das startups não é falta de dinheiro” diz presidente do BNDES
O administrador de empresas e analista de sistemas Renato Silva Rodrigues, de 37 anos, é exemplo de que é possível empreender fora do eixo Rio, São Paulo e Minas Gerais. Paulistano, Rodrigues deixou a capital ainda na infância para resolver um problema de saúde. Já adulto, não quis deixar a Paraíba e decidiu aproveitar o crescimento do Estado para empreender. Abriu a Softcom, empresa de tecnologia da informação (TI).
O administrador de empresas e analista de sistemas Renato Silva Rodrigues, de 37 anos, é exemplo de que é possível empreender fora do eixo Rio, São Paulo e Minas Gerais. Paulistano, Rodrigues deixou a capital ainda na infância para resolver um problema de saúde. Já adulto, não quis deixar a Paraíba e decidiu aproveitar o crescimento do Estado para empreender. Abriu a Softcom, empresa de tecnologia da informação (TI).
"Comecei informalmente trabalhando por conta e sozinho no ano 2000.
Seis anos depois, a empresa já estava crescendo e tive de buscar ajuda
do Sebrae para padronizar processos e melhorar a gestão", recorda o
empresário.
Hoje, a companhia conta com 105 funcionários e tem três unidades:
duas na Paraíba, em João Pessoa e Campina Grande (leia mais sobre a
cidade abaixo), e uma em Recife. O faturamento, não revelado pelo
empresário, já ultrapassa R$ 3,6 milhões.
"A Paraíba está crescendo muito, mas não basta trazer a empresa para
cá e achar que vai dar certo. É preciso desenvolver soluções que sejam
compatíveis com a identidade local", alerta Rodrigues.
Desenvolvimento tecnológico
Entre as cidades da Paraíba, Campina Grande é o principal destaque
quando o assunto é desenvolvimento tecnológico, segundo Ludmilla Veloso,
diretora da regional Nordeste da Associação Brasileira de Startups
(ABStartups).
"Apesar de ser interior, a Universidade Federal de Campina Grande tem
o terceiro melhor curso de tecnologia do País, aquecendo o mercado de
startups da região", destaca Veloso.
A proximidade com Pernambuco, que detém um dos maiores parques
tecnológicos do Brasil, o Porto Digital (no Recife), também fomenta o
empreendedorismo na Paraíba, acrescenta ela, que é pernambucana. "O
Nordeste está entrando no radar de muita gente. Estamos chamando a
atenção do mercado."
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