“Com a vinda dos médicos estrangeiros, tenho a absoluta
convicção de que as pessoas humildes terão assistência médica em
qualquer hora do dia ou da noite”, diz padre que atua no sertão da
Paraíba.
Confira a entrevista.
“Na minha caminhada de padre por este sertão paraibano, tenho
presenciado cenas dramáticas de pessoas gritando por socorro médico, e
nada de atendimento. Só quem vive com o povo pobre sabe de sua dor, de
seu sofrimento, de seu desespero na hora da doença”, relata o padre Djacy Brasileiro, pároco na cidade de Pedra Branca-PB, no alto sertão paraibano. Favorável ao Programa Mais Médicos, que pretende “levar médicos para regiões onde há escassez e ausência de profissionais”, conforme informa o Portal da Saúde do governo federal, padre Djacy diz que o estado da Paraíba irá receber “51 médicos pelo Programa, sendo 47 brasileiros e quatro estrangeiros”.
Ele avalia que para “uma revolução na saúde pública” da região,
formada por 21 cidades, seria necessária a vinda de “uns mil médicos do
programa mais médico”. E assevera: “seria uma grande felicidade para a
população sofrida”.
“Testemunha ocular dessa realidade desumana”, padre Djacy, na entrevista a seguir, concedida por e-mail à IHU On-Line,
relata a situação da saúde pública na Paraíba e menciona que além da
“falta de hospitais com toda a estrutura indispensável para seu bom e
eficaz funcionamento, faltam profissionais especializados em quase todas
as áreas”. Segundo ele, “os governantes nunca investiram pesadamente em
política de saúde pública. Parece que saúde para o povo pobre nunca foi
prioridade para os detentores do poder”. E acrescenta: “É lamentável
que famílias e amigos de alguns pacientes façam bingos, rifas, visando
adquirir dinheiro para pagar um exame ou uma cirurgia. Isso acontece
muito no sertão paraibano. Bingos e rifas viraram sinônimos de exames
médicos ou cirurgias”.
Padre Djacy Brasileiro é graduado em Filosofia e Teologia pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Cajazeiras – FAFIC.
Foto: http://bit.ly/14H5nHX |
Confira a entrevista.
IHU On-Line - Por que o senhor é favorável ao Programa Mais Médico do governo
federal?
federal?
Djacy Brasileiro - Sou favorável ao Programa Mais Médicos
do governo federal por várias razões: a população pobre, que reside no
interior ou nas periferias das grandes cidades, não tem assistência
médica como convém; muitas pessoas buscam desesperadamente socorro
médico, e não têm atendimento.
Na minha caminhada de padre por este sertão paraibano, tenho
presenciado cenas dramáticas de pessoas gritando por socorro médico, e
nada de atendimento. Só quem vive com o povo pobre sabe de sua dor, de
seu sofrimento, de seu desespero na hora da doença.
Nos lugares pequenos, pobres, atrasados, distantes, a ausência de
médicos é uma realidade. Quando o médico aparece para dar seu plantão,
isso é notório. O atendimento é feito correndo, e os pacientes são
atendidos muito mal. Já ouvi diversas vezes comentários assim. Algumas
pessoas dizem que às vezes o médico não deixa nem falar, vai logo
passando o medicamento. Um tempo desse, uma pessoa me falou: “padre, fui
consultar e o médico não me examinou, mal olhou para mim. Saí do posto
de saúde pior, com raiva, triste”.
IHU On-Line – Como a situação da saúde pode melhorar com a vinda de médicos brasileiros?
Djacy Brasileiro - Com a vinda dos médicos
estrangeiros, tenho a absoluta convicção de que as pessoas humildes
terão assistência médica em qualquer hora do dia ou da noite. Penso que
irá melhorar muito. É triste, desesperador, adoecer e não ter um médico
para socorrer. Sou testemunha ocular dessa realidade desumana.
Penso que os médicos do exterior haverão de atender com muita
dignidade, com muito amor e atenção os seus pacientes. Com isso não
estou generalizando: há muitos médicos no Brasil que são humanos, que
tratam bem os pacientes. Felizmente, há essas exceções. Com um médico do
Brasil ou do exterior morando na comunidade, os pobres ficarão
conscientes que o socorro médico estará a seu alcance quando precisar.
Estou muito animado e feliz com a vinda desses médicos, não só eu,
mas toda a população sofrida deste interior pobre paraibano. Será uma
benção de Deus. Uma coisa é certa: a medicina tem que ser humanizada. Os
médicos devem tratar o paciente com amor, carinho, e não com frieza,
insensibilidade, medo etc.
IHU On-Line - Por quais razões faltam médicos no seu estado?
Por que, na sua avaliação, há tanta resistência de os médicos atuarem
nas cidades do interior do país?
Djacy Brasileiro - São diversas as razões: os governantes nunca investiram pesadamente em política de saúde pública.
Parece que saúde para o povo pobre nunca foi prioridade para os
detentores do poder. Hoje está melhorando um pouco, porque os cidadãos
estão tomando consciência de sua cidadania, de seus direitos
inalienáveis.
Na minha região sertaneja falta investimento nessa área. Pouco ou
quase nada é investido. São poucos os hospitais e, mesmo assim,
funcionam com muita precariedade. A tecnologia avançada, ou seja,
aparelhos modernos, de última geração, ainda não são uma realidade.
Quando um paciente precisa fazer um exame de alta complexidade, têm que
ir para Campina Grande ou João Pessoa.
Além de falta de hospitais com toda a estrutura indispensável para seu
bom e eficaz funcionamento, faltam profissionais especializados em quase
todas as áreas.
No sertão paraibano, a população sofre muito. É um Deus nos acuda. Sou testemunha dessa tétrica e desumana realidade.
Muitos médicos, infelizmente, não querem trabalhar em cidades distantes dos grandes centros urbanos.
Preferem ficar nas cidades maiores, talvez visando colocar suas
clínicas particulares, ganhar mais, ter mais conforto etc. As cidades
pequenas paraibanas são pobres, atrasadas, distantes da capital. Isso
certamente contribui muito para que alguns médicos não queiram trabalhar
no interior.
Conheço muitas e muitas cidades onde não há médicos morando, e quando
vêm a esses lugares, dão seu plantão e vão embora. Muitos médicos dizem
que não vêm para o interior porque os hospitais ou postos de saúde não
dispõem de estruturas. Sinceramente, não acredito nisso. Há outros
motivos, claro.
Infelizmente, há alguns médicos que fazem da medicina um meio fácil de adquirir status e ganhar muito dinheiro, ficarem ricos.
IHU On-Line - Qual a situação da saúde na Paraíba? Como funciona o atendimento no
SUS?
SUS?
Djacy Brasileiro - Serei bem objetivo quanto a essa
pergunta. A saúde na Paraíba vai mal, e de mal a pior. Digo isso porque
converso com as pessoas que necessitam de atendimento médico-hospitalar.
A situação é grave. Triste, repito, quem adoecer nesta minha Paraíba. Quem é rico tem plano de saúde, vai para os melhores hospitais da capital ou das grandes cidades do país como São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília.
Para esses, ainda há saída. Agora para a maioria do povo, que depende
da saúde pública, que não tem dinheiro, a situação é extremamente
crítica, desesperadora. Muitas pessoas madrugam em busca de uma consulta
médica.
É lamentável que famílias e amigos de alguns pacientes façam bingos,
rifas, visando adquirir dinheiro para pagar um exame ou uma cirurgia.
Isso acontece muito no sertão paraibano. Bingos e rifas viraram
sinônimos de exames médicos ou cirurgias. Quem não tem dinheiro para
pagar uma tomografia ou ressonância magnética, por exemplo, tem que
recorrer a bingos ou rifas. Essa é a realidade.
IHU On-Line - Quantos médicos são necessários para atender a população da Paraíba?
Djacy Brasileiro - A região onde moro é composta de
21 cidades. Em todas elas deveriam ter médicos fixos, residentes. Na
Paraíba, se viessem uns mil médicos do programa mais médicos seria uma
grande felicidade para a população sofrida. Seria uma revolução na saúde
pública.
IHU On-Line - Algum médico estrangeiro já foi realocado em seu estado? Quantos médicos devem atuar na Paraíba?
Djacy Brasileiro - Segundo informações, a Paraíba
receberá 51 médicos pelo Programa, sendo 47 brasileiros e quatro
estrangeiros. Que Deus abençoe o programa mais médicos. Avante!
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