Caleb e Josué nasceram
no dia 21 de abril após sete meses de uma gestação tranquila. Mas,
prematuros e pesando 1,495 kg e 1,580 kg cada um, precisaram receber
cuidados especiais.
Passaram 17 dias no
Berçário Intermediário (BI) do Instituto de Saúde Elpídio de Almeida
(Isea) em Campina Grande, e mais seis na “Enfermaria Canguru”, onde mãe e
pai se dividiram no papel de “mãe canguru”.
Na Paraíba, foi a primeira vez que um pai utilizou o método para cuidar de um filho.
O assessor de crédito
José Luciano Guedes de Sousa, 26 anos, antecipou as férias para se
dedicar ao nascimento dos primogênitos, que de tão esperados, receberam
os nomes bíblicos.
O afastamento do emprego
também foi necessário porque o casal mora em Aguiar, no Alto Sertão da
Paraíba e teve que mudar temporariamente para casa de amigos em Campina.
Luciano se tornou um
“pai canguru”, uma adaptação do Método Canguru, estratégia de
assistência a bebês de baixo peso e que necessitam de auxílio para o
desenvolvimento, através do contato pele a pele, geralmente com a mãe.
Três ou quatro vezes por
dia, na hora da amamentação, Caleb e Josué recebiam o carinho de mãe e
pai, presos ao corpo dos dois por uma espécie de bolsa de tecido,
amarrada na cintura e no pescoço de cada um. “A gente teve oportunidade
de estar com eles, de andar com eles. No início eles não podiam ser
tirados da incubadora, porque estavam muito vulneráveis e se alimentavam
pela sonda, uns três dias, depois, aos poucos começaram a ser
amamentados”, conta Guedes.
Através do contato
físico com os pais, os recém-nascidos ganharam peso, fortaleceram o
batimento cardíaco e a respiração. “Foi muito importante. Fiz o que
achava certo. Acho que os pais deveriam estar mais presentes na vida dos
filhos, cuidar em todos os momentos, não deixar somente nas mãos das
mulheres. A nossa presença é fundamental. Acredito que ajudei bastante
minha esposa e que fortaleci nossa relação”, diz o pai de primeira
viagem, orgulhoso.
INICIATIVA SURPREENDE MÃES DO ISEA
Luciano não entendeu
porque, ao ser visto como “pai canguru”, causou tanta surpresa na
maternidade. “Me senti constrangido. Começaram a comentar, veio a
comitiva de imprensa do Isea para fotografar. Todos falavam e eu não
entendia o que tinha demais naquilo tudo. Cumpri com meu papel de pai.
Eram dois bebês e minha mulher precisava de ajuda. Mas as mães receberam
bem a atitude, acho que aprovaram. Acho que gostariam de ter o mesmo
gesto”, afirma.
Para a mãe dos gêmeos, o
“pai canguru” se tornou ainda mais especial. “Foi uma experiência nova.
Não imaginei que fosse chegar a esse ponto, mas ele sempre foi muito
presente. Aumentou o carinho e a admiração”, diz a professora Cícera
Devânia Pereira Lins Guedes, 29 anos, que acredita que a experiência
fortaleceu os laços familiares. “Foi uma forma de estreitarmos ainda
mais nossa relação. Aquele contato, aquele carinho, é o que mantemos
hoje, nos cuidados do dia a dia”, revela a professora.
De acordo com a
coordenadora de Saúde da Mulher da Secretaria de Estado de Saúde (SES),
Fátima Morais, é o primeiro registro de “pai canguru” em hospitais da
Paraíba. “Que a gente da coordenação tenha conhecimento, é a primeira
vez sim. Existe um trabalho de referência do programa “Mãe Canguru”
também no Instituto Cândida Vargas (capital), mas só temos registro de
“mães cangurus”. Como este caso do Isea é a primeira vez”, afirma.
TÉCNICA É COMUM NO BRASIL
A diretora do Isea,
Marta Albuquerque, explica que apesar do ineditismo na Paraíba, em
muitos hospitais do país existem registros de “pais cangurus”. “Os pais
têm direito de participar de todo processo da gestação. A técnica
canguru faz parte do parto humanizado. A mulher tem direito de escolher o
(a) acompanhante que ela quiser. Já é uma prática observada em outros
lugares do Brasil”, diz.
A coordenadora de
Neonatologia do Isea, Denise Amorim, dá mais explicações sobre o método,
que mesmo estendido a outras pessoas, deve ser prioritário para as
mães. “O método, utilizado para bebês de baixo peso, abaixo de 2,5 kg
que vão para a ‘mãe canguru’ quando estão com no mínimo, 1,250 kg, que
não precisam mais de ventilação para respirar. Funciona como uma
incubadora para o bebê, aumentando a temperatura corporal, o vínculo
entre mãe e filho e estimulando também a amamentação e pode ser
continuado em casa, depois que o bebê recebe alta”, explica.
De volta à rotina em
Aguiar, Luciano ainda não marcou o retorno dos bebês ao hospital para
avaliação. “Está tudo correndo bem com os meninos. São fortes,
saudáveis. Devânia está de licença e se dedica em tempo integral. Eu
ajudo como posso. A gente segura os bebês como segurávamos na
‘Enfermaria Canguru’, não temos aquele acessório, mas tentamos continuar
os princípios que ajudaram as crianças”, falou.
Fonte: Fernanda Moura
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